domingo, 20 de janeiro de 2019

A revolução disfarçada de jardinagem

Eco camping Flor de Moringa

A quase dois anos ou mais venho lendo de maneira descomprometida e nada sistemática sobre Permacultura. Não lembro ao certo como conheci, acredito que através de um amigo. A descoberta sobre o tema surgiu devido a vontade de saber mais sobre as hortas caseiras nos centros urbanos. Das hortas caseiras veio a leitura sobre uma prática sustentável e as bioconstruções. A ideia de você cultivar sua própria comida e não  ficar completamente refém do consumo, me trouxe ainda mais interesse em conhecer o que era, afinal, a permacultura. Bem, da horta à permacultura foram vários caminhos, caminhos que perpassam os impactos da sociedade industrial a real crise ambiental, a loucura da sociedade de consumo e  "a permacultura como a 'revolução' disfarçada de jardinagem."  A pratica de viver dos recursos locais em uma profunda interação e coletividade humana é revolucionária. Os estudos e práticas da Permacultura entendem o funcionamento do ecossistema, da produção, do consumo, do reúso e da reciclagem local. Com a Permacultura educamos nossos olhares para descobrir na natureza a nossa volta o que ela pode oferecer para o uso da coletividade. A permacultura é uma filosofia que trabalha com e não contra a natureza. Ela estabelece em nossa rotina diária, hábitos e costumes de vida simples e ecológicos por meio de uma integração direta e equilibrada com o meio ambiente. A inserção  dos métodos e os princípios da Permacultura podem contribuir para planejar e manejar a paisagem urbana, trazendo a natureza para praças, parques e jardins. 



Na recente visita ecopedagógica com o grupo Mandala consegui perceber e aprender como o reaproveitando de materiais simples, a altura de muitos quintais,  junto com a sinergia das mãos comuns pode construir uma forma sustentável de hortas e moradias com base nas bioconstruções. O senso de coletividade alimenta a sobrevivência da Permacultura.  Sobre essas práticas há muito o que dizer, mudar e aprender. Só posso almejar expansão e vida loga a Permacultura.

Finalizo esse pequeno relato com uma citação  do "pai" da permacultura Bill Mollison:  "A maior mudança que temos que fazer é ir de consumo para produção, mesmo que numa pequena escala em nossos jardins. Daí a futilidade de revolucionários sem jardins, que dependem do próprio sistema que atacam, que produzem palavras e balas, mas não comida e abrigo" 
Eco Aldeia flecha da mata- CE


Viajar



Flor de moringa, Aracati-CE
Você como turista ou viajante, educa seu olhar, aprende com aqueles ali vivem ou concentra-se nos grandes monumentos? Repara os pequenos seres que vivem no lugar, como as flores, as formigas e os besouros? Quando saímos do nosso habitat o novo ou totalmente novo se instaura em nossos sentidos. A diferença se estabelece e nós como forasteiros temos ficar atentos ao convívio amigo com seres que vão surgir. Infelizmente, já vi e até mesmo fui uma espécie de predadora feroz que ao chegar em lugar desconhecido me comportei como se o mundo me pertencesse, sendo servida, e mal dizendo: bom dia. Eu estava ali por mim. O que aprendi afinal? Nada. Nada vi, nada percebi naquele momento além de mim mesma. Não ouvi a não ser o meu velho e enfadonho eu. Não observei como uma criança que tenta entender o mundo. Não olhei com amor o mundo como muitos idosos olham. Nada aprendi. Mas a mudança é uma esperança. Hoje nas viagens que faço sempre me lembro que posso ser mais que uma predadora feroz. As chaves passaram a ser: observe, escute, veja e ame. Todo o encontro é uma oportunidade de moldar-se, de reformular, de aprender com outro. Do que adianta viajar e permanecer o mesmo? Se o que buscamos muitas vezes é conhecer, conviver ou simplesmente descansar e ficar tranquilo. E todas essas ações que nos impulsionam e nos dão ferramentas para mudar.  Lembro-me de um filosofo que gostava na adolescência que ajuda a pensar e conduzir minha conduta nas viagens. as antes de citá-lo quero acrescentar algo que venho aprendendo. A possibilidade de escolher viagens pedagógicas. Viagens que saiam dos grandes roteiros, viagens onde não exploramos tanto os trabalhadores mais humildes, viagens sem grande luxo, viagens colaborativas e amigáveis. Viagens que me proporcionem aprender mais com outro.

Depois de tanto tempo entendi Sêneca com toda sensatez falar sobre as viagens:   "Pensas que só a ti isso sucedeu; admiras-te, como se fosse um caso raro, de após uma tão grande viagem e uma tão grande variedade de locais visitados não teres conseguido dissipar essa tristeza que te pesa na alma!? Deves é mudar de alma, não de clima. Ainda que atravesses a vastidão do mar, ainda que, como diz o nosso Vergílio, as costas, as cidades desapareçam no horizonte, os teus vícios seguir-te-ão onde quer que tu vás. Do mesmo se queixou um dia alguém a Sócrates: «Porquê admirar-te da inutilidade das tuas viagens,» - foi a resposta, - «se para todo o lado levas a mesma disposição? A causa que te aflige é exatamente a mesma que te leva a partir!»e facto, em que pode ajudar a mudança de local, ou o conhecimento de novas paisagens e cidades? Toda essa agitação carece de sentido. Andares de um lado para o outro não te ajuda em nada, porque andas sempre na tua própria companhia. Tens de alijar o peso que tens na alma; antes disso não há terra alguma que te possa dar prazer! 
Temos de viver com essa convicção: não nascemos destinados a nenhum lugar particular, a nossa pátria é o mundo inteiro! (Sêneca. Cartas à Lucílio)
Dona Fátima indígena potiguara.
Um encontro e aprendizado.
Com ela ouvi sobre os espíritos da mata.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Juntas somos mais

Imagem relacionada
Ontem fui surpreendida com um olhar.  Em um espaço normal como supermercado tudo que eu esperava era acabar de fazer o que tinha para fazer ali. Em meio as prateleiras e produtos fui surpreendida com um olhar nada gentil. Recebo esse tipo de olhar de mulheres mais velhas, normalmente. Agora, o que despertou minha atenção é que o olhar vinha de uma moça que tinha cabelos levemente azuis e tatuagens pelo corpo. E esse tipo de estereótipo já me diz: uma moça de boas, feminista, uma das minhas.
Passou, continuei nas compras e eu fiquei pensando naquele olhar agressivo. Poucos minutos depois houve um novo encontro, na secção de doces, eu estava com minha filha e sobrinha e elas insistiam para ganhar um kinder ovo, enquanto isso a moça se aproxima com sua irmã, acho. E disse: - eu não entendo como alguém pode comprar isso para os filhos.  Fixando seu olhar em minha direção. E eu me perguntei? Isso foi para mim?! Se sim? Para que isso! Pensei. E disse: - Mana, eu concordo com você.  E ela saiu sem apresentar nem um sinal de dialogo. Avistei umas duas vezes ainda durante as compras, e seu olha não mais se direcionava ao meu. 
Ao voltar para casa fiquei me perguntando o porquê de tanto ranço no olhar daquela moça. Eu nem a conhecia. Não teria “tomado” um namorado dela. Muitas vezes, mulheres se odeiam por esse absurdo motivo. Sendo assim, fiquei com a pergunta. Por que aquela moça agiu daquela forma? O que há de errado? Talvez ela quisesse me ensinar alguma coisa que ela julgava saber mais. Ou era soberba mesmo.
Passados alguns dias, o acontecimento com a moça ainda ecoava perguntas. Comecei a pensar o quanto nós mulheres estamos tão distantes uma das outras. E que essa casualidade é um exemplo de como não somos empáticas. Estamos a todo tempo armadas para uma competição? Melhor que a rincha sem motivo, seria um sorriso que diz: ei, mana estamos juntas! Não somos uma ameaça, não precisamos competir. Essa lógica de rivalidade é uma prática perversa do passado.  Issso me levou a pensar: Você irmã não é uma ameaça. Ameaça mesmo é a violência contra nós dentro dos lares, ameaça é ser assediada por um chefe, ameaça é a oportunidade retirada. E ainda ameaça é quando o Estado se nega a fazer uma lavagem após um aborto clandestino. Em mundo cheio de ameaças o que nos cabe é reconhecer que estamos em desvantagem. E que mais que nunca precisamos unir e integrar.

O brilho do mundo é nosso. A outra jamais vai tirar teu brilho. Juntas conquistamos mais.  Quando deixaremos de ataques pelo olhar, pela fala, pelos posts?  Compartilha tua voz, teu sorriso, teus braços com aquelas que ao abrir os ouvidos e te ouvir vão sentir perfeitamente o que você está sentindo. Somos irmãs na dor. Desconstruimos essa lógica perversa que desitegraga, compete e separa e passemos mais a cooperar, compartilhar, abraçar e criar redes de apoio e afeto entre nós. 

Voto ou não voto?



Embora não tenha a intenção, por ora, de fazer uma retrospectiva de ano, o princípio de um fim gera algo quase incontrolável de contabilizar os dias que faltam para o “novo” e o “inesperado”. Mesmo que o inesperado já se configure como bem esperado e nada brilhante. Cabe assim fazer um movimento retrogrado de um ano confuso e desajustador de algumas certezas. O primeiro desses grandes desajustes foi a lição de que certas certezas que pareciam ser inabaláveis são uma grande piada de mal gosto.  Há como confiar na certeza? Uma vez que haja a dúvida é prudente nunca confiar plenamente na certeza como disse Descartes um dia. Saindo do bê-á-bá cartesiano, na verdade acreditei ter calcado boas bases que não dessem margens para dúvidas a minha estrutura libertária. Mas, nesses tempos tempestuosos os mares que banham o Brasil fez agitar muitas ondas e a mais perigosa delas, foi e é: a onda conservadora.  Algo já vinha tomando forma desde 2013 e ano após ano chegamos em  2018, ano de eleição, com a mais desastrosa e perigosa onda de falas conservadoras, Essas falas ganharam amplitude e corpo e se personificaram em um homem cujas palavras e ideias atingem os direitos de fala, expressão e vida de muitos que vivem em nosso país. O avançar desse tsunami conservador, ganha corpo e representatividade na figura horrenda de Jair Messias Bolsonaro, e a ameça de um governo presidido por esse homem me fez pensar: Voto ou não voto?. Votar para mim não era uma opção no fazer político, a democracia representativa era simplismente incompatível com minhas ideias libertarias... Mas diante de uma ameça absurda que representava e representa Bolsonaro, tive que  repensar algumas posturas políticas, mesmo que temporariamente. Decidir apoiar um grupo político pode ser "fácil" e até mesmo o segredo para preencher e dar sentido à vida de muita gente. A militancia partidaria... Ocupar os espaços, fortalecer ou ampliar a célula do partido. Ser orgânico e integrar os movimentos sociais com intuito de copitar mais integrantes em nome do fortalecimento do partido... Romantico e nostálgico, lembra as táticas da Igreja no Renascimento e os grupos nascidos na Reforma protestante, lembra a catequese. Lembra também colonização, mas agora convencida por meio de teses de marxistas leninistas, social democratas, progressitas...  Bonito, orgânico, mas nada libertário. Definitivamente não escolhi isso para mim. Mas dentro desse contexto absurdo de um regime de representatividade onde um louco, fascista e perverso tem vez e pode facilmente destruir a árdua construção de nossa frágil democracia. Obviamente e diante do contexto, tive que decidir dolorosamente votar... Entendo que o voto foi uma grande conquista das irmãs sufragistas do passado. Todavia, ainda concordo com Emma Goldman quando diz “se votar fizesse alguma diferença, fariam-no ilegal.”. Defendi e defendo o voto nulo. Entendo que anular em uma eleição é algo significativo e simbólico. Representa descontentamento, insatisfação, o protesto. Mesmo que o nulo não anule uma eleição. Votar nulo não é indiferença ou “tanto faz”, ele pode ser o contrário do que os famintos partidários por votos pensam. O voto no contexto de uma democracia representativa, na verdade, faz pouca diferença. Votamos nas assembleias, nos atos de rua, nas lutas diárias em uma democracia direta e participativa. E é a esse voto que digo: sim. Votamos quando respiramos fundo para ganhar força e voz quando uma injustiça se faz a nossa vista. O voto é escolha, e escolhemos o tempo todo. Em nosso grito, em nosso suor, em nossas lutas, votamos! As mudanças que queremos dificilmente virá de um representante. A mudança que precisamos vem povo, das demandas de vida de um povo. Como diria os meus amigos anarquistas "Acorde todo dia e vote em si mesmo!" Vote com sua comuna, com o seu bairro, com sua federação. A luta e a real mudança só pode vir do poder popular. Mas.. Coloco a pergunta que faço aos meus amigos votantes dos pleitos eleitorais partidários: Como votar em alguém eleito e apoiado pelos grandes capitalistas neoliberais? Como e porquê compactuar com isso? Como se pode se enganar com isso?!  Entretanto e, portanto, nessas eleições de 2018 escolhi votar para presidente.  Votei no intuíto de alterar um quadro que já estava decidido e compartilhado por boa parte dos brasileiros. Votei contra um discurso perigoso e preocupante. Votei contra a perversidade e a loucura,  E esse foi o primeiro ponto que me fez decidir apoiar e estar junto a um grupo que não acredito. Não acredito que Haddad represente mudança, mas sim permanência. E entre a permanência e a loucura que pode levar a um caos incontornável. Votei na permanência. A permanência de um status quo que está a mais de uma década de acórdões com capitalistas neoliberais. Contudo,  representavam ainda a oposição possível para as eleições em Outubro. Diante disso, temporariamente, a certeza de não votar em eleições foi fragmentada. Mas qual certeza não está sujeita a isso? E votar foi uma decisão séria e real. Mesmo que no fundo da minha convição política sobre voto de uma eleição representativa  não fosse mudar em termos estruturais muita coisa. Enfim...


Agora me pergunto: será que as certezas que estabelecemos ao longo da vida são abaladas com as grandes ameaças? Um fascista teria esse poder me convencer a votar contra ele? Sim. Diria mais, um fascista é capaz de muita coisa, e o povo em buscar de se defender é capaz de muito mais. 

As influências astrais em tempos de coronavírus

  Vivemos em uma época de forte descrença nos astros, mas ao mesmo tempo nos divertimos com inúmeras páginas e memes que tornam o saber astr...