Embora não tenha a intenção, por ora, de fazer uma retrospectiva de ano, o princípio de um fim gera algo quase incontrolável de contabilizar os dias que faltam para o “novo” e o “inesperado”. Mesmo que o inesperado já se configure como bem esperado e nada brilhante. Cabe assim fazer um movimento retrogrado de um ano confuso e desajustador de algumas certezas. O primeiro desses grandes desajustes foi a lição de que certas certezas que pareciam ser inabaláveis são uma grande piada de mal gosto. Há como confiar na certeza? Uma vez que haja a dúvida é prudente nunca confiar plenamente na certeza como disse Descartes um dia. Saindo do bê-á-bá cartesiano, na verdade acreditei ter calcado boas bases que não dessem margens para dúvidas a minha estrutura libertária. Mas, nesses tempos tempestuosos os mares que banham o Brasil fez agitar muitas ondas e a mais perigosa delas, foi e é: a onda conservadora. Algo já vinha tomando forma desde 2013 e ano após ano chegamos em 2018, ano de eleição, com a mais desastrosa e perigosa onda de falas conservadoras, Essas falas ganharam amplitude e corpo e se personificaram em um homem cujas palavras e ideias atingem os direitos de fala, expressão e vida de muitos que vivem em nosso país. O avançar desse tsunami conservador, ganha corpo e representatividade na figura horrenda de Jair Messias Bolsonaro, e a ameça de um governo presidido por esse homem me fez pensar: Voto ou não voto?. Votar para mim não era uma opção no fazer político, a democracia representativa era simplismente incompatível com minhas ideias libertarias... Mas diante de uma ameça absurda que representava e representa Bolsonaro, tive que repensar algumas posturas políticas, mesmo que temporariamente. Decidir apoiar um grupo político pode ser "fácil" e até mesmo o segredo para preencher e dar sentido à vida de muita gente. A militancia partidaria... Ocupar os espaços, fortalecer ou ampliar a célula do partido. Ser orgânico e integrar os movimentos sociais com intuito de copitar mais integrantes em nome do fortalecimento do partido... Romantico e nostálgico, lembra as táticas da Igreja no Renascimento e os grupos nascidos na Reforma protestante, lembra a catequese. Lembra também colonização, mas agora convencida por meio de teses de marxistas leninistas, social democratas, progressitas... Bonito, orgânico, mas nada libertário. Definitivamente não escolhi isso para mim. Mas dentro desse contexto absurdo de um regime de representatividade onde um louco, fascista e perverso tem vez e pode facilmente destruir a árdua construção de nossa frágil democracia. Obviamente e diante do contexto, tive que decidir dolorosamente votar... Entendo que o voto foi uma grande conquista das irmãs sufragistas do passado. Todavia, ainda concordo com Emma Goldman quando diz “se votar fizesse alguma diferença, fariam-no ilegal.”. Defendi e defendo o voto nulo. Entendo que anular em uma eleição é algo significativo e simbólico. Representa descontentamento, insatisfação, o protesto. Mesmo que o nulo não anule uma eleição. Votar nulo não é indiferença ou “tanto faz”, ele pode ser o contrário do que os famintos partidários por votos pensam. O voto no contexto de uma democracia representativa, na verdade, faz pouca diferença. Votamos nas assembleias, nos atos de rua, nas lutas diárias em uma democracia direta e participativa. E é a esse voto que digo: sim. Votamos quando respiramos fundo para ganhar força e voz quando uma injustiça se faz a nossa vista. O voto é escolha, e escolhemos o tempo todo. Em nosso grito, em nosso suor, em nossas lutas, votamos! As mudanças que queremos dificilmente virá de um representante. A mudança que precisamos vem povo, das demandas de vida de um povo. Como diria os meus amigos anarquistas "Acorde todo dia e vote em si mesmo!" Vote com sua comuna, com o seu bairro, com sua federação. A luta e a real mudança só pode vir do poder popular. Mas.. Coloco a pergunta que faço aos meus amigos votantes dos pleitos eleitorais partidários: Como votar em alguém eleito e apoiado pelos grandes capitalistas neoliberais? Como e porquê compactuar com isso? Como se pode se enganar com isso?! Entretanto e, portanto, nessas eleições de 2018 escolhi votar para presidente. Votei no intuíto de alterar um quadro que já estava decidido e compartilhado por boa parte dos brasileiros. Votei contra um discurso perigoso e preocupante. Votei contra a perversidade e a loucura, E esse foi o primeiro ponto que me fez decidir apoiar e estar junto a um grupo que não acredito. Não acredito que Haddad represente mudança, mas sim permanência. E entre a permanência e a loucura que pode levar a um caos incontornável. Votei na permanência. A permanência de um status quo que está a mais de uma década de acórdões com capitalistas neoliberais. Contudo, representavam ainda a oposição possível para as eleições em Outubro. Diante disso, temporariamente, a certeza de não votar em eleições foi fragmentada. Mas qual certeza não está sujeita a isso? E votar foi uma decisão séria e real. Mesmo que no fundo da minha convição política sobre voto de uma eleição representativa não fosse mudar em termos estruturais muita coisa. Enfim...
Agora me pergunto: será que as certezas que estabelecemos ao longo da vida são abaladas com as grandes ameaças? Um fascista teria esse poder me convencer a votar contra ele? Sim. Diria mais, um fascista é capaz de muita coisa, e o povo em buscar de se defender é capaz de muito mais.
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