quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

A palavra


Após uma intensa estadia, finalmente resolvi dizer  o que queria: 

-Vou prostituí-la e por meio de ti receber aplausos!

Ela com toda sua exuberância e prepotência repondeu: 

- Se mal me usares nem o mais ínfimo leitor de bula te dará audiência.

 Respondi: 

- Mesmo que não seja eu que ganhe sobre suas costas. Tantos o já fizeram e tu não te  importaste?

E ela me disse:
- Já nasci prostituída, desnuda para fazerem o que mal ou bem quiserem.

Continuei a questionar: 
- Não é triste isso?

E ela com tom melancolico me respondeu:
 - O que posso eu fazer?  No principio de tudo eu já era verbo, me conjugavam, julgavam e me lançavam ao fogo.

Mais uma vez a questionei: 
- O que tu achas de tudo isso?

Ela em três palavras em respondeu: 
-  Insolúvel, desmedido, um percalço.

Disse:
Melhor não seria ser livre? 

E ela levemente conformada, mas com suspeita felicidade disse: 
- Nas letras que se agregam está meu rumo.  Só ganho e sigo a tramontana. O que mais tenho em minhas mãos?

E eu disse:


- O meu coração. 

Ela subtamente se levantou e disse ao abrir a porta:
- Passaste muito tempo por aqui. Agora vais. Não demores tu com perguntas. Desejo ventura. E lembre-se: não apresse sua seiva tens a eternidade pela frente. Continuarei aqui sou permanência e tu logo se esvai. 


Imagem: Ting Shao Kuang.  

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