quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Ciganos

O ritmo dos gitanos e a dança veloz,
atirados, atrevidos, filhos da sorte?

Suas saias giram como rodas constantes.
Em festejos são lindas e reluzentes,
nas ruas acinzentadas vestes maltrapilhas
de cores desbotadas.

De pés rachados de chão.
De mão em mão atravessam oceanos
profetizam, dilaceram baralhos.

Nos quatro cantos do mundo
se mostram em mil faces da mesma moeda.


Imagem: Francisco Rodriguez Sanchez.

A palavra


Após uma intensa estadia, finalmente resolvi dizer  o que queria: 

-Vou prostituí-la e por meio de ti receber aplausos!

Ela com toda sua exuberância e prepotência repondeu: 

- Se mal me usares nem o mais ínfimo leitor de bula te dará audiência.

 Respondi: 

- Mesmo que não seja eu que ganhe sobre suas costas. Tantos o já fizeram e tu não te  importaste?

E ela me disse:
- Já nasci prostituída, desnuda para fazerem o que mal ou bem quiserem.

Continuei a questionar: 
- Não é triste isso?

E ela com tom melancolico me respondeu:
 - O que posso eu fazer?  No principio de tudo eu já era verbo, me conjugavam, julgavam e me lançavam ao fogo.

Mais uma vez a questionei: 
- O que tu achas de tudo isso?

Ela em três palavras em respondeu: 
-  Insolúvel, desmedido, um percalço.

Disse:
Melhor não seria ser livre? 

E ela levemente conformada, mas com suspeita felicidade disse: 
- Nas letras que se agregam está meu rumo.  Só ganho e sigo a tramontana. O que mais tenho em minhas mãos?

E eu disse:


- O meu coração. 

Ela subtamente se levantou e disse ao abrir a porta:
- Passaste muito tempo por aqui. Agora vais. Não demores tu com perguntas. Desejo ventura. E lembre-se: não apresse sua seiva tens a eternidade pela frente. Continuarei aqui sou permanência e tu logo se esvai. 


Imagem: Ting Shao Kuang.  

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Os primos ( part.)


Era tarde, era o final da tarde e o primeiro dos treze havia partido. Agora, quase todo entardecer lembro-me de sua partida. A notícia de sua morte foi súbita. Em telefonema choroso recebi a notícia. E um pouco mais tarde um noticiário anunciou: - Jovem de vinte oito anos e um homem de quarenta anos foram assassinados. Dois homens chegaram de bicicleta e atiraram várias vezes. Nos primeiros tiros a intenção era matar, nos  sucessivos cometer um fuzilamento. Foi o que pensei e lembrei do mineirinho de Lispector.
Nunca sabemos quem o matou. Talvez sua falha humana, que encontrou outra já tão falhada e o fuzilou com toda sombra e maldade. Poderia ser qualquer outro, tantos outros filhos da falha, garotos sem pai, filhos do desespero. Uma vítima da escolha ou vítima da conseqüência? Sua pobreza e condição foram suficientes para que nunca mais se tocasse no assunto. Conclusão do caso: envolvimento com drogas e nunca mais se fala disso. O envolvimento com drogas era justificativa suficiente para um veredicto popular: - era um vagabundo criminoso. Ao engolir seus almoços conseguiam misturar comida e sangue e ouvir as fatídicas noticias de mais um de tantos jovens óbitos. Sem nenhuma dignidade e divindade julgaram aqueles que almoçavam ao ver o noticiário. 
Nesse dia parei para ouvir o noticiário, sem almoço. Assisti plácido o sangue derramado no chão, sem tarja e sem censura. Panos cobriam os corpos, pois os inúmeros tiros não haviam tirado uma, mas duas vidas e o termino de um jogo de domino.
 Entre as  flores baratas e as velas brancas percebemos que perdemos, éramos doze. Em seu sepulcro a vida, do mais velho dos primos, havia partido. Eram duas histórias, mas uma única cena. O menino magro, moreno de rosto sujo de poeira e lagrimas, de calção e pés descalços corria na rua de barro vermelho. Na palidez da face de seu pai, via o desespero do menino. 
 – Papai morreu, papai morreu. O menino em gritos histéricos dizia para si, e para ruela. A cena do seu pai ensanguentado, mesa virada e jogo no chão pouco pairavam em minha memória. Só menino que de tempos e tempos em minha lembrança passava correndo.
"Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror." Chaplin.

Foto: Oklahoma, 1914.
  • "Rama, Rama, ó guerreiro de braços longos, ouve o segredo eterno que te permitirá vencer todos os teus adversários. Ele não é outro senão o 'Hino ao Sol', ó caro filho, ele é sagrado; essa prece é eterna, imperecível, elevada e auspiciosa, a alegria dos bons, a destruidora de todos os males, a que acalma o medo e a ansiedade, a aumentadora de vida, e os mais excelentes de todos os versos: "'Ó Tu, que ao nascer és coroado com raios, a quem os Devas e Asuras prestam homenagem, saudações a Ti! Tu és Vivisvata, o resplandecente Senhor dos Mundos, a Alma dos Deuses, o Refulgente, o Criador da Luz, que sustentas as Hostes de Devas e Asuras e os Três Mundos com Teus raios. Tu és o Criador, Mantenedor e Destruidor, Tu és o Deus da Guerra, o Senhor das Criaturas, o Rei dos Celestiais, o Distribuidor de Riqueza. Tu és Tempo e Morte, o Possuidor de esplendor, o Senhor das Águas, os Antepassados, os Vasus, os Sadhyas, os Maruts, Manu, Vayu e o Deus do Fogo. Tu és a Fonte de Vida e das estações, Tu és o Grande Nutridor de tudo, o Gerador de todos, o Corcel nos céus, o Mantenedor, o Possuidor de Raios, o Dourado, o Brilhante, a Energia Cósmica, o Criador do Dia. 
    Tu és onipenetrante, de miríade de raios, o Indicador de todos os caminhos, de quem procedem os sentidos, Tu és O de Mil Raios, o Subjugador das Trevas, Aquele de quem provém toda felicidade, o Removedor dos sofrimentos de Teus devotos, o Infusor de vida no Ovo Cósmico, o Possuidor de Raios. Tu és a causa da 
    Criação, Preservação e Destruição do universo, o Beneficente, o Possuidor de Riqueza, o Portador do Dia, o Professor, O de ventre de fogo, o Filho de Aditi, Tu és Felicidade suprema, o Removedor de Ignorância, o Senhor do Firmamento, o Dissipador de Escuridão, o versado no Rik, Yajus e Sama (Vedas), Aquele de quem fluem as chuvas, o Amigo das Águas, Aquele que, com um único salto, atravessou a Cordilheira Vindhya. Tu estás concentrado em criar o Cosmos; Tu estás adornado com pedras preciosas; Tu és o Portador da Morte, o Pingala,o Destruidor de todos, o Onisciente, Cuja forma é o Universo, de grande energia, amado por todos.
  • Senhor de todas as ações. Ó Tu, Senhor das estrelas, planetas e constelações, o Criador de tudo, o Resplandecente entre os esplêndidos, a Essência das doze formas,saudações a Ti! Saudações às montanhas do Leste e do Oeste, saudações ao Senhor dos corpos estelares e ao Senhor do Dia! Saudações a Ti, o portador de vitória e da alegria que brota da vitória, ó Senhor dos Corcéis Dourados! Saudações a Ti, O de mil raios, ó Aditya! Saudações a Ti que controlas os sentidos, a Ti o herói que és digno da Sílaba Sagrada,
    saudações a Ti que despertas o Lótus! Saudações a Ti, ó Feroz, que és o Senhor de Brahma, Ishana e Achyuta! A Ti, ó Sol, Possuidor de Luz, Tu de poder iluminador, o Devorador de tudo, que assumes a forma de Rudra, sejam as nossas saudações! Saudações a Ti, o Destruidor da escuridão, do frio e do inimigo; Saudações a Ti de Alma Infinita, o Destruidor dos ingratos, o Senhor das Estrelas; saudações a Ti, cujo esplendor lembra ouro refinado, o Destruidor da ignorância, o Arquiteto do Universo. Saudações a Ti, o Removedor de escuridão, o Iluminador, o Observador de todos os mundos. És Tu que crias tudo e destróis tudo, que secas, consomes e aniquilas 
    tudo. Tu acordas quando todas as criaturas dormem, em cujo coração Tu resides; Tu és o fogo sacrifical, e o fruto do sacrifício. Tu és a soma de toda ação e o Senhor dela'. "Ó Raghava, aquele que recita esse hino na hora do perigo, no meio da selva ou em qualquer risco não sucumbe a ele. Oferece uma profunda devoção àquele Deus dos Deuses, o Senhor do Mundo! Aquele que recita esse hino três vezes será vitorioso! Ó guerreiro de braços longos, chegou a hora em que tu triunfarás sobre Ravana!
.(Ramayana, yuddha kanda, livro VI) 
Um dia, o sol admitiu:
Sou apenas uma sombra, quisera poder mostrar-te a infinita incandescência que lançou minha imagem brilhante. Quisera poder mostrar-te, quando você se sentir só ou na escuridão, a surpreendente luz do seu próprio ser.

Hafiz

Imagem: Monet, 1908.
A terra é o meu lar, os vastos céus minha morada. Nenhum estado, nenhuma nação poderão jamais assenhorar-se de mim.

Sou o perfume da evolução cósmica.
Nenhum pensamento, nenhuma raça, nenhuma idade poderão reclamar-me. Vimala Thakar
"Se a tranquilidade da água permite refletir as coisas, o que não poderá a tranquilidade do espírito?"

Imagem: Wu Zhen. Dinastia Yuan. 1350.

As influências astrais em tempos de coronavírus

  Vivemos em uma época de forte descrença nos astros, mas ao mesmo tempo nos divertimos com inúmeras páginas e memes que tornam o saber astr...